segunda-feira, 29 de julho de 2013
(Fanfic) O 58° Jogos Vorazes
Capitulo 2
Ana M.
Meus olhos estão fechados. Sinto que estou me segurando para não chorar. Tem quase vinte e quatro horas que não vejo Pedro. Só de segurar sua mão já me sentiria mais segura. O tubo que me leva a arena para e sinto vento açoitar meu cabelo. A primeira coisa que sinto é o cheiro de salsichas fritas, o que é decididamente estranho. Aos poucos tomo coragem para abrir os olhos e ver o que os Idealizadores de Jogos prepararam este ano.
Ofego. É uma visão que só poderia ser vista em antigos livros de historia. Até onde sei, estamos em uma estação de metrô antiga. Porém tudo está estilhaçado. O metrô que esperava na linha está tombado e as cabines de ingressos estão em estado deplorável. Toda a estação está literalmente caindo aos pedaços. E no centro há uma fonte de água, já seca, cheia até a borda com suprimentos de todos os tipos. Vejo a alguns metros de mim uma faca jogada displicentemente no chão.
Ergo o olhar rapidamente quando o relógio começa a contagem regressiva de dez segundos. Minhas pernas estão doendo com a tensão, mas se eu sair agora, serei explodida em milhões de pedaços, então concentro-me olhando para Pedro. Ele me encara de volta e vejo seus lábios se moverem formando a frase "siga o plano".
Seguir o plano. Certo. Não há muita escapatória, mas revejo minhas opções. Há três escadas que levam a superfície, uma de cada lado. Também há o túnel por onde o metrô ia e vinha, dois lados. Também tem algumas lojas de conveniências por aqui, mas não sei se seriam um bom esconderijo.
Cinco segundos. Olho para Pedro novamente e formo as palavras "te amo" com os lábios. Meu coração para por um segundo e tudo parece correr em câmera lenta: Pedro dizendo eu também te amo, o contador chegando ao zero, uma garota gritando e o primeiro tributo pegando uma arma letal.
Ignoro todos os planos que eu e Pedro tínhamos formado durante o treinamento e corro para pegar a faca que pode ser minha salvação a qualquer momento. Algo passa de raspão por minha cabeça mas ignoro e me abaixo atrás de uma lata de lixo para avaliar o local. Não vejo Pedro no meio da confusão, mas vejo sangue, o que me deixa enjoada. Pretendo me afastar o mais rápido possível em direção dos trilhos de trem quando o corpo da garota do Distrito 9 cai ao meu lado, gemendo de dor. Sua perna foi atingida por algo em forma de flor mas com pontas tão afiadas que de longe seria tão delicado quanto uma. Meu primeiro instinto é ajudar, mas quando vejo o garoto do Distrito 11 vindo em nossa direção com uma arma de fogo na mão, dou as costas a garota. Engulo em seco quando ouço o som do tiro. Meus instintos avisam que sou o próximo alvo, então entro na loja de conveniência mais perto e me jogo no chão.
Eu estava certa. A bala atinge a porta de madeira e fica cravada ali. Está tudo escuro dentro da loja, mas me arrasto para um canto, o mais escondido que posso ficar no momento.
Sei que estou enganada quando sinto uma respiração ritmada em meu pescoço e mãos frias tampam minha boca impedindo que eu grite.
Raphael J.
Corro como se minha vida dependesse disso. E depende, aliás. Sou um dos primeiros tributos a chegar na fonte, mas os outros estão preocupados pegando uma ou duas coisas e correndo em direções opostas. De relance vejo a garota do Distrito 1, Lavínia, correr com uma mochila nas costas e outra no braço. Pego uma mochila também, consideravelmente menor que a que Lavínia carrega, e um grande machado. Estou prestes a correr para os trilhos do metrô quando sinto uma dor aguda na perna. Olho para baixo e vejo o sangue escorrer do ferimento causado por uma shuriken. Quem as esta atirando é a garota do Distrito 5, Alessandra. Espero até ela estar próxima o bastante para acertar um golpe de machado em seu braço. Ela vacila, olhando para mim com os olhos marejados. Atrás dela, o tributo do Distrito 10 (Lembro-me vagamente de seu nome, Leonardo alguma coisa) ergue uma clava pronto para acerta-la em Alessandra.
Não sei o que acontece, mas não posso deixar que ela seja morta assim. Com a mão livre, jogo ela para o lado e paro a clava com meu machado, arracando-a dos braços do garoto. Acerto-lhe um soco na mandíbula antes que ele reaja.
Sem pensar pego Alessandra e a jogo por sob meu ombro, ela esperneia, protestando.
- Ei! Me solta! Não pedi sua ajuda!
- Pare de reclamar e proteja minha retaguarda.
- Você atingiu meu braço direito, gênio, não posso lançar as shurikens.
- Ou você tenta ser útil ou nós dois morremos. O que prefere?
Sinto ela ficar tensa. Mas não dura nem um minuto e ela se agita para pegar algo no cós da calça. Vejo de relance um brilho metálico.
- É isso ai, estamos quase lá. - resmungo.
Sofia A.
- A sua direita! - ZP grita.
Ergo a primeira arma que me vem a mão, um martelo maior que a minha cabeça, e sinto meu braço formigar quando atinjo o peito da garota do Distrito 11. Pude sentir seus ossos se estilhaçarem sob o peso do martelo, mas continuo correndo.
- Para onde eles foram?! - grito.
- Escada ao leste! - Ele responde.
Assinto, correndo com ele naquela direção. ZP carrega três mochilas, uma espada e uma espingarda. Eu havia ficado surpresa quando Rafael Chimicatti, meu companheiro de Distrito, sugeriu uma aliança. Confiar minha vida aqueles completos estranhos era suicídio, ainda mais depois que ele me apresentou os outros. ZP e Marcelly, ambos do Distrito 6 e Yago e Vivi do Distrito 8. O plano que antes parecia um absurdo total agora parece fazer sentido. Eu e ZP fomos encarregados de pegar suprimentos enquanto os outros procuram um lugar seguro. Meu dever é proteger ZP enquanto ele corre com as coisas.
Já nas escadas ouvimos um som horrível de algo sendo triturado. Mando ZP continuar correndo, mas não resisto a olhar para trás. A Tributo do Distrito 10 segura uma serra elétrica ensopada de sangue no ar e quando a abaixa novamente, parte o corpo do garoto do Distrito 3 em dois. A cena é horrível, porém não consigo tirar os olhos daquilo.
- Sofia! Um corpo! - A voz vinda do topo da escada me desperta.
Olho uma última vez para a garota da serra elétrica e subo o restante dos degraus correndo. ZP está parado ao lado de um corpo minúsculo coberto de sangue.
- É a garota do Distrito 7. - Lembro, me agachando para poder ver melhor. - Ela está viva?
- A respiração dela está instável. - ele murmura, sombrio. - Talvez consiga sobreviver.
- Só podemos torcer para quem a encontrou não tenha encontrado os nossos.
- Sofia! Raphael!
- Já pedi para me chamar de ZP... - ele resmunga.
Chimicatti vem em nossa direção, sem olhar para a garota sangrando. Ele está ofegando, mas não faz uma pausa ao falar:
- Venham logo, vocês tem que ver isso!
ZP já está subindo o outro lance de degraus. Chimicatti o segue. Respiro fundo, ajeitando meu martelo contra o ombro.
- Você sabe o que aconteceu aqui?
Ele não se vira ao dizer:
- Marcelly aconteceu.
Um barulho alto de tiro soa pelo lugar, acertando uma lata ao em cima do balcão. Eu fico ainda mais tensa e nem noto quando Pedro se agacha ao meu lado, me oferecendo uma arma. Sinto o metal frio envolver meus dedos enquanto o sigo em direção do som. Meus olhos já acostumados com a escuridão reconhecem a silhueta do garoto do distrito 11 com uma arma de fogo na mão. Outro tiro soa e dessa vez passa por algo que tenho certeza que é a cabeça de Levy. Ela se levanta e atira no ombro dele, desviando-se da próxima bala. O click insistente da arma indica que ele não tem mais balas. Levy aproveita e lança a faca que o atinge diretamente no peito. Ele se apoia em uma das prateleiras, procurando estabilidade. É a chance que Levy tem. Ela corre em sua direção, puxando a faca ensopada de sangue e crava fundo em seu peito. Ele já não tem mais forças, mas ela retira a faca e perfura sua barriga uma, duas vezes. Ela está pronta para mais um ataque quando Pedro se levanta e segura sua mão.
Sabrina R.
- Fique quieta. - tento dizer o mais calma possivel. - Esta tudo be...
Ela não espera que eu termine e crava uma faca em minha mão. Grito, olhando o ferimento mais de perto. O sangue escorre quente por minha mão mas como está escuro não posso ver a profundidade do ferimento. Olho para cima irritada e reconheço a Maldita. Lembro-me que foi assim que Levy a apelidou durante os treinos. Agora ela parece inofensiva, olhando para a faca ensangüentada como se olhasse para um bicho de três cabeças. Ergo as mãos num gesto de paz.
- Calma, eu só quero...
Ela não me da tempo de falar e me ataca. Ambas caímos no chão e rolamos para o lado. A garota tenta acertar meu rosto com a faca diversas vezes, mas eu desvio de cada um de seus ataques. Por um momento não sou rápida o bastante e a Maldita acaba me imobilizando, com a faca apertando o meu pescoço.
Antes que haja uma reação, ambas ouvimos o som de gatilho.
- Se afaste dela.
Tento olhar para o lado, mas a faca está tão próxima que o mínimo movimento pode me cortar. Com o canto do olho vejo apenas um par de coturnos, mas já sei quem é. Levy foi a única a recusar os sapatos oficiais para os tributos.
- Se você atirar vai atrair atenção dos que estão lá fora. - o raciocínio dela é rápido.
- Existe 25% de chance de que haja um silenciador nessa arma. - Levy rosna, sem hesitar.
Sinto a faca afrouxando. A garota do Distrito 4 parece estar reconsiderando suas opções. Mas quando ouvimos passos vindos da parte da frente da loja, voltamos a ficar tensas. Levy porém não move um músculo.
- Não consegui despistar, tive que mata-lo... - só consigo enxergar os contornos, mas sei pela voz que é o namorado da Maldita. Não há duvidas quando ela solta a faca e soluça o nome dele. - Lavínia! O que está acontecendo aqui? Achei que você tivesse dito que ia protege-la!
- Parece que ela não precisa de proteção.
Aproveito que a garota largou a faca e me afasto engatinhando. Levy vem em minha direção sem tirar os olhos dela.
- Você está bem? - Ela pergunta.
- Ótima. Como foi?
- Consegui duas mochilas. - Levy sorri. - Tive que abrir uma lá fora, o garoto do Distrito 10 estava me perseguindo. Tem mais duas armas dentro dela, dois cintos de munição e outras coisas. Não tive tempo de olhar.
- E a nove? - Pergunto, mas em seus olhos já vejo a resposta. - Ela não conseguiu.
- Viegas estava a poucos metros daqui quando foi atingida. - ela murmura, sombria. - Escapei graças ao Pedro. Ele distraiu o garoto do Distrito 10 enquanto eu corria para cá e em troca eu cuidaria da Ana.
Então esses são seus nomes. Ana e Pedro, o casal do Distrito 4. Pelo visto os planos iniciais de minha aliança com Levy e Viegas foi levemente modificado. Agora o Casal de Malditos está do nosso lado.
- Acho que a palavra cuidar não faz muito sentido para você. - Pedro diz ironicamente. - Quando eu cheguei você estava com uma arma apontada para a cabeça dela!
Levy abre a boca para responder mas nenhuma palavra sai. Ao invés disso ela coloca o dedo indicador entre os lábios, pedindo silencio. É então que todos ouvimos os passos vindos da parte da frente da loja. Pedro aperta Ana contra seu corpo, puxando-a para a parede. Levy engatinha até onde está a faca que Ana largou e olha para nós três, pedindo calma e silêncio. Quando ela desaparece por trás do balcão começo a orar para todos os Deuses existentes.
- Lavínia, ok, está tudo bem, ele esta morto.
Ela respira fora de ritmo ao olhar para mim. Concordo com a cabeça. Está tudo bem, por enquanto.
- Temos que dar o fora daqui. - Ana murmura. - Os carreiristas provavelmente já tomaram a fonte, é uma questão de tempo até que venham nos procurar
- Esse aqui estava tentando ser um dos carreiristas. Se lembra, Sabrina?
Sim, eu me lembrava. Ele sempre tentava se aproximar dos Tributos dos Distritos 2, 3 e 5 durante os treinamentos. Christopher alguma coisa era o seu nome.
- Ele tentou me matar mais cedo. - Ana diz, recolhendo a arma dele do chão.
Levy pega uma das mochilas e me entrega. Sei que não é a com as armas, por que está leve demais. A outra ela abre e investiga o conteúdo rapidamente, tirando de lá um dos cintos com munição e passando para Ana. Já é obvio que nos tornamos uma equipe. Ela tira mais uma coisa ali de dentro e entrega a mochila pesada para Pedro.
- Vamos, deve ter uma saída nos fundos.
Felipe H.
- Christopher está demorando. - Phillip comenta.
- Ele deve ter encontrado um suprimento de salgadinhos. - dou de ombros, abrindo uma das caixas espalhadas pelo chão. - Wow, um estoque de bombas!
- Eu ouvi som de tiros. - Ele insiste, com ar pensativo.
- Calma tio Phill. - Samuel diz, girando uma lança nas mãos. - Tenho certeza que...
Ouvimos um canhão, ergo a cabeça, atento. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete.
Sete tributos foram mortos no primeiro dia. Somos dezessete agora. E eu sou um dos carreiristas. Até o momento em que apenas oito de nós restarmos, estou salvo. Pena não poder dizer o mesmo da minha companheira. Christopher esta patrulhando a área e informou que encontrou o corpo dela quase sem vida na escada. Não perguntei, mas sei que ele acabou com o serviço. Seu nome era Claudia. Lembro-me dela chorando quando foi chamada. Era filha única, foi o que minha mãe contou.
- Então. - Mariane me tira de meus devaneios. - O que deu na cabeça de vocês para me aceitar, uma humilde garota do Distrito 10 em sua tão exclusiva classe de carreiristas?
- Você é boa. - Phillip informa. - Você e Hardy são os poucos de distritos inferiores que tem chance de vencer.
- Isso não significa que você deveria acabar com a gente? - pergunto.
Phillip olha para mim. Seus olhos são nublados, não há como saber o que ele pensa. Mas sei que o que ele diz é importante. Sei que ele sabe melhor do que qualquer um o que está fazendo.
- Eu vi quando você esfaqueou Pedro Frost sem nem olhar para trás. - ele diz e depois desvia o olhar para Mariane. - E se depender de mim, só a enfrentarei como ultima opção.
Mariane olha de relance para a serra elétrica em suas mãos. Ela não a soltou desde o momento em que cortou o garoto do Distrito 3 em dois pedaços. Penso no momento em que ouvi a aproximação de Frost e com um gesto rápido e calculado atirei uma faca para trás. Foi o que me salvou quando Christopher me segurou pela blusa e já ia me dar um soco quando Phill interferiu.
- Foi uma pena termos perdido Aron. - ele diz, pensativo. - Ele era muito bom.
- Ele tentou me atingir com uma espada. - Mariane resmunga, acariciando o cabo de sua serra.
- Realmente, ele foi precipitado. - ele fica em silêncio por mais alguns segundos. - Acho que Christopher deserdou. Ou então está morto.
- Vou checar. - Samuel vai até a loja de conveniências em que Christopher havia entrado.
- E o que nós vamos fazer? Esperar que os outros se matem? - pergunto, chutando uma pedra.
- Não faz sentido ficarmos sentados esperando. Vamos a caça.
- Me pergunto o que tem lá em cima...
- Eu não entendo por que temos que formar uma aliança se no final vamos todos nos matar mesmo. - Mariane revira os olhos.
Phill começa a andar em direção dos trilhos. Acho que até posso ouvir as engrenagens de seu cérebro girando. Ele está pensando em um plano para acabar com todos.
- Ora Mariane. - sua voz nos surpreende. - Nunca ouviu o ditado?
- Pessoal! - Samuel interrompe. - Christopher está morto! Quem quer que seja fugiu pelos dutos de ar.
- Droga. - faço uma careta. Agora somos apenas quatro.
- Mantenha os amigos perto. - ouço Mariane murmurar, sombria.
- E os inimigos mais perto ainda. - Phill conclui com um sorriso travesso.
Rafael C.
Estamos em Nova York.
Sei disso por causa dos meus livros de historia antiga. Enquanto levo os outros para o esconderijo, condigo ver destroços de uma civilização antiga. Carros quebrados, lojas com roupas puídas pelo tempo que nunca foram utilizadas, bancas de revistas com noticias sobre uma possível guerra nuclear. Imaginar aquele mundo é fascinante.
Levo Sofia e ZP até um starbucks destruído. Ali, sentados no balcão, estão Yago, Marcelly e Vivi. Olhando bem, noto que Marcelly esta tremendo. A arma de choque ainda travada na potência máxima que ela usou para parar Claudia está do outro lado do balcão.
- Estão todos bem?
- Vivos. - Yago da de ombros.
- Ótimo. Venham aqui, vamos ver o que conseguimos.
Ela espalha o conteudo das mochilas na mesa. Na primeira e na segunda há comida e garrafas d'agua. Na terceira pequenas bolinhas com um timer ns frente. Bombas. Eles também conseguiram pegar uma espingarda, uma espada e uma arma de fogo. Além disso temos a arma de choque de Marcelly.
- Vocês chegaram a ver os carreiristas? - pergunto.
Sofia estremece.
- Eu vi coisas que não gostaria de me lembrar. - ela diz baixo o suficiente para que apenas eu ouça. - Venha, vamos ver como o pessoal está.
Marcelly tem um corte no rosto. Vivi apenas mordeu a língua durante a correria e Yago está mancando. E estou surpreendentemente bem. A parte da frente da blusa de Sofia está ensopada de sangue, mas ela ignora.
- Bem... Pelo menos estão todos vivos. - ela diz aliviada.
- Então Sofs, - começo com um sorriso - quem teve uma boa idéia?
- Ai cale a boca.
- Responda, quem é um gênio?
Ela sorri.
- Você é um gênio, Chimicatti.
Alice G.
Me assusto quando as janelas do vagão de metro em que estou criam vida própria.
Não tenho armas. A sacola que consegui pegar na cornucópia só tinha um saco de dormir, fósforos e água. Mas é melhor que nada. Usei minha força para terminar de quebrar uma trave que agora uso como bastão. Quando vejo o símbolo de Panem nas janelas, fico mais calma. Não tem como ver o céu dali, mas sei que está de noite. Eu corri muito para ficar o mais longe possível dos carreiristas. O hino de Panem começa a tocar e sei que onde quer que estejam, os outros tributos estão vendo o mesmo que eu: As baixas.
Pedro Frost, do Distrito 1
Aron Mokai, do Distrito 3
Claudia Cecilia, do Distrito 7
Gabriela Viegas, do Distrito 9
Leonardo Macieira, do Distrito 10
Cynthia Laís, do Distrito 11
Christopher Aguiar, do Distrito 11
E assim termina o dia, com sete tributos mortos. Deito em meu saco de dormir e tomo um gole de água, me ajeitando. Amanhã preciso encontrar o que comer, é o que penso. Lembro-me de ter visto alguns ratos na minha vinda para cá. Não importa o quão nojento seja, eu preciso sobreviver.
Porém quando ouço vozes vindas do túnel, já não sei se isso é possivel.
Narrador
- 5F e 9M se aproximando da 3F, senhor.
- O grupo liderado pela 12F está se afastando.
O Idealizador de Jogos Mestre está rodeando a mesa com o holograma da Arena. Ele desliza a mão suavemente por sua barba, pensativo. Sua decisão mudara o rumo dos Tributos sobreviventes.
- Pela manhã iremos tirar eles dali. - ele diz, analisando a distancia entre cada grupo de Tributos. - Já está na hora deles verem a luz do sol.
- Iremos usar sua criação especial, senhor?
- Não! Deixaremos isso para o final. Faça um close da mutação 94.5, por favor.
Ele aponta para a mulher mais próxima, uma Idealizadora que aparenta ter menos de 25 anos. Ela é rápida com as mãos sob o holograma e digitaliza o que parece ser um gato doméstico inofensivo.
- A mutação 94.5 apresenta falhas senhor, é apenas um protótipo.
- O que há de errado com ela?
- Bem... - a Idealizadora engole em seco, desviando o olhar. - Ela não para ao matar as vítimas, senhor. A mutação 94.5 devora os restos.
O homem passa novamente a mão na barba, considerando. Por fim ele dá de ombros.
- Pode ser. Nunca disse que queria os corpos inteiros mesmo.
- Mas senhor...
- Agora, coloque cinco aqui, dois aqui e sete ali. - ele aponta os lugares distraidamente. - E lance o vapor 101.2 sob os trilhos. Isso os deixara mais atiçados.
- Sim senhor.
Ele se senta novamente, sorrindo ao pensar no grande estrago que está para fazer. Se suas criaturinhas não matarem os Tributos recentes, banindo-os da estação de metrô fara com que mais cedo ou mais tarde eles se encontrem e recomecem o banho de sangue.
E então ele poderá ativar seu projeto especial.
Alice G.
Coloco minhas coisas novamente na sacola, pronta para fugir a qualquer sinal de perigo. Segurando meu bastão improvisada com tanta força que os nós de meus dedos ficam brancos, me aproximo da janela do metrô, me forçando a enxergar.
- Para onde você pretende me levar? - a voz é fina e irritante. É uma garota.
- Você é livre para voltar, sabe? - essa é grossa e impaciente. - Seria adorável receber um obrigada.
- Agradecer por ter quase arrancado meu braço fora? - a garota resmunga. - Obrigada.
Me ajeito melhor até conseguir ver seus contornos na escuridão. Ambos são mais altos do que eu e parecem portar muito mais suprimentos. Eu agradeceria se pudesse acender uma luz para poder ver melhor...
Como se lesse meus pensamentos, a luz queimada do vagão a minha esquerda é acesa. Reconheço a garota ruiva do Distrito 5 e o garoto do 9. Eles encaram o vagão com armas a postos. Me abaixo um pouco mais, torcendo para não ser vista.
- Tem alguém ai? - ele pergunta.
- É claro que se tiver não vai te responder, idiota!
- Foi uma tentativa.
Eles esperam um pouco mais antes de sentarem. O garoto abre a mochila que carrega nas costas, procurando algo útil enquanto sua parceira analisa os objetos em forma de flor em sua mão. Me lembro vagamente deles nos treinamentos. Shuriken, eu acho.
- O que tem ai? - ela interrompe o silêncio, olhando de esguelha para a bolsa.
- Três potinhos com a etiqueta: Veneno, Sal e Molho de Churrasco.
- Molho de churrasco? - ela franze o cenho. - Por que nos dariam molho de churrasco?
- Pergunte à eles. Também tem um pacote com pedacinhos de melancia e uns óculos maneiros.
Melancia. Meu estômago ronca. Ainda tenho comida, mas sei que devo poupar, por isso volto para o meu cantinho e fico apenas escutando os dois falarem sobre o que devem comer agora, agarrada as minhas coisas pronta para sair a qualquer sinal de ataque.
Em algum momento de minha intensa vigília, acabo adormecendo.
Mariane M.
Estão todos dormindo. Já se passaram quatro horas desde que As Baixas foram anunciadas. Está na hora de sair daqui.
Apesar do que todos acham, sei que tenho mais chances de sobreviver se estiver bem longe de Phillip. Eu gostaria de acordar Hardy e Samuel também, mas algo me diz que eles tem tanto medo de mim quanto de Phillip. Então apenas junto o necessário, incluindo minha serra elétrica e tomo meu rumo pelas escadas. Estou sozinha agora, sem alianças. Sei que a garota do Distrito 12 veio por essa escada, eu a vi enquanto matava o outro. Talvez a encontre antes do sol nascer e ponha fim ao seu sofrimento.
Já consigo ver os prédios destruídos quando sinto que não estou sozinha. Os pelos de minha nuca se arrepiam e eu começo a me virar devagar. Estava certa. Um par de pontos brilhantes me encara da escuridão. São os olhos de algum animal noturno, mas não acho que ele seja tão inofensivo assim. Seus olhos sem vida me encaram sem piscar. E então outros pares de olhos brilhantes começam a aparecer na escuridão. Conto sete deles.
Engulo a saliva que passa arranhando minha garganta. Aperto minha serra com mais força e dou um passo para trás. As criaturas começam a produzir um som sibilante, semelhante ao de uma cobra. Estou prestes a me virar e correr quando uma mão tampa minha boca. Um grito sufocado sai, mas os animais continuam imóveis e sibilando.
- Shhh. - ouço a voz de Phillip. - Vamos nos afastar de vagar. Você vai seguir meus passos, certo?
Sem escolha, balanço a cabeça concordando. Parece ser uma eternidade, mas conseguimos nos afastar das criaturas e chegar a rua em menos de cinco minutos. Não posso mais ouvir os sons deles, mas sei que ainda estão ali esperando.
- A primeira regra de sobrevivência caso encontre animais desconhecidos. - Phillip diz, me soltando. - Não faça movimentos bruscos.
- Obrigada. - murmuro, sem olhar para ele.
- Talvez você confie em mim agora. - eu continuo sem o encarar. Ao invés disso, começo a andar, olhando para todos os lados. - Ou não.
Sem me virar, mostro meu dedo do meio para ele. Não consigo deixar de pensar em Hardy e Samuel lá em baixo com aquelas criaturas. Phillip os deixou sozinhos. Que bela aliança.
Ele continua me seguindo, mas eu o ignoro. Só paro quando vejo uma luz em um dos estabelecimentos próximos.
- São eles? - Phillip sussurra em meu ouvido.
- Veremos. - digo com um sorrisinho.
Alessandra D.
- Por que você me salvou? - pergunto, engolindo outro pedaço de melancia. - Nem sei seu nome.
- Raphael. - ele da de ombros. - E eu não sei.
- Como não sabe?
Ele somente da de ombros novamente. Irritada, cuspo as sementes de melancia que permaneciam em minha boca.
- Sabe... - ele começa, mudando de posição. - Por mim eu salvaria todos aqui. Nenhum de nós merece isso.
Olho ao redor, alarmada. As cameras estão em todo lugar e nesse momento torço para que não estejam focadas em nós.
- Vamos mudar de assunto, por favor.
Ele me ignora e continua falando, olhando para um ponto alem de mim.
- É injusto. Nós nem estavamos vivos quando os Rebeldes se revoltaram. Se eu sobreviver, vou tentar mudar isso. Pelo menos no meu distrito. Irei distribuir o dinheiro, de modo que nenhuma criança precise por seu nome mais de uma vez no sorteio.
- Isso é lindo e tal, mas acho melhor você calar a...
Ele me silencia com um gesto. Fico vermelha, irritada por ser interrompida pela segunda vez. Quando abro a boca para protestar, ele ergue a mão. Raphael parece alarmado.
- Está sentindo esse cheiro?
Respiro fundo. Ele tem razão. O ar mudou repentinamente e agora traz um cheiro de carne podre. Me levanto, puxando minha zarabatana. Ele faz o mesmo, preparando o machado para o ataque.
Milhares de pontos brilhantes começam a aparecer na escuridão. Coloco um dardo na zarabatana, pronta para agir. Dois pontos começam a se aproximar de nós. Respiro fundo e...
É um gato.
Ele mia para nós e eu engasgo com minha saliva. Raphael abaixa o machado e sorri.
- Eles devem ter sido atraídos pelo cheiro de carne.
- Acho melhor não... - Novamente sou interrompida.
Um grito agudo soa pelo túnel. É nesse instante que eu noto que o gato não tem uma pata e apenas metade da orelha. E agora esta sibilando para nós. Mais cinco aparecem atrás dele, os dentes pontudos a mostra.
- Não se mova. - Raphael sussurra para mim.
Claro, como se eu fosse dar as costas para essas criaturas demoníacas.
O grito se repete e a porta de um dos vagões se abre. A garota do Distrito 3 corre em nossa direção, mas cai de joelhos no meio do caminho. Sangue se espalha pelo chão. Um gato esta preso as costas dela, devorando a carne. E quebrando os ossos de sua costela. Mais dois se juntam a ele, devorando o corpo da garota. Eu grito inconscientemente.
- Ok, agora... CORRE!
E eu corro como nunca corri em minha vida.
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